sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Arbex: “Luto pela democracia e justiça no Brasil”


[Matéria publicado no Jornal Primeira Página]

“Um simples cidadão brasileiro”, é assim que José Arbex Júnior se define em entrevista concedida ao Primeira Página(PP), durante sua participação no I Seminário de Comunicação em Jornalismo realizado pela Câmara Municipal de Pouso Alegre com o apoio da UNIVÁS.

Jornalista, escritor e professor, José Arbex começou a carreira universitária como aluno de Engenharia Química, mas ao mesmo tempo desenvolvia atividades contra a ditadura militar na imprensa clandestina, onde começou a escrever e pegou paixão pelo texto. Fez quatro anos de Engenharia, mas concluiu que a sua praia era mesmo o Jornalismo.

Com sua risada de pura ironia e irreverência, Arbex é graduado em Jornalismo (1982) e doutor em História Social, ambos pela USP (Universidade de São Paulo), ingressou na grande mídia em 1984 como repórter da área de Política Externa da Folha de São Paulo até chegar ao cargo de editor responsável da editoria Mundo no mesmo jornal. Em 2003 participou do conselho editorial do Jornal Brasil de Fato.

Guerras, conflitos políticos e momentos inesquecíveis foram as principais coberturas feitas por José Arbex como correspondente internacional em Nova York e em Moscou, pela Folha e em Londres pela BBC. O jornalista relata que duas coberturas marcaram sua vida. “A queda do Muro de Berlim, porque é o grande símbolo da divisão do mundo, e quando vi aquilo cair, era uma época histórica que presenciava na minha cara, que estava acabando. E do ponto de vista mais emocional, mais pessoal foi no Afeganistão, porque estava a bordo de um avião que foi alvo de um míssel Stinger, você via os mísseis chegando pela janela do avião (risos), foi emocionante”

Na questão política, o jornalista é simples e claro, afirma que as políticas de compensação social que o governo Lula adotou como Bolsa Família e outras são equivocadas e não vão resolver o problema de fundo. Um ponto que Arbex sempre ressalta em sua entrevista é que no Brasil a escravidão não foi completamente abolida. “Ainda existe ‘casa grande e senzala’, então acho que enquanto existir não adianta a ‘casa grande’ dar migalhas para a ‘senzala’. E o governo Lula faz isso, ele democratiza a ‘casa grande’, quer dizer, no sentido de que distribui migalhas para a população, e eu não concordo com isso”.

José Arbex, como escritor, publicou mais de 30 livros incluindo O Século do crime, ganhador do Prêmio Jabuti em 1997. Segundo ele a leitura de Showrnalismo - a notícia como espetáculo e Jornalismo canalha são fundamentais para um estudante de jornalismo. Ele recomenda também alguns grandes nomes da literatura brasileira como Machado de Assis, João Guimarães Rosa e Carlos Drumonnd de Andrade.


Observador e crítico por natureza, José Arbex mostra como a mídia brasileira, principalmente o telejornalismo, do ponto de vista técnico, é uma das mais avançadas e perfeitas do mundo, contudo isso é perigoso, porque a técnica é ótima, sedutora e prende sua atenção, mas o conteúdo é autoritário, mentiroso e escravocrata. A mídia tem o poder em dizer o que é importante e o que não é importante, e as pessoas se sentem informadas, mas na verdade estão sendo desinformadas.

Arbex tem sua carreira marcada por entrevistar diversas personalidades do mundo político, intelectual e artístico, como Mikhail Gorbachev, Chávez, Yasser Arafat, Daniel Ortega e John Cage. Mas em entrevista ao PP relatou duas entrevistas que mudaram sua visão de mundo. “Os dois padres, o Padre Chico, que era confessor do Carandiru em São Paulo e o Padre Henri, lá do sul do Pará, que tem uma lista de ameaças contra vida dele que daria um quilômetro. Os dois, tanto o Padre Chico quanto o Frei Henri são de famílias muito ricas. Eu aprendi muito com eles,antes de entrevista-los não gostava de padres, mas depois de entrevistá-los vi que tem muita gente boa na igreja também”.

Atualmente, é editor especial da revista Caros Amigos, uma das mais importantes revistas de esquerda da América Latina. Na revista ajuda a sugerir pautas, definir estratégias e contribui no que pode. Além disso, é professor na PUC de São Paulo. Em uma mistura de conselho para jovens jornalistas e sonho a trajetória de vida de Arbex se mistura com tudo que já viu, ouviu e vivenciou no Brasil e no mundo em mais de 25 anos de carreira jornalística, e que ele resume em poucas palavras: “Lute pela abolição da escravidão”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário